Quando me perguntam qual a minha profissão, eu digo com muito orgulho que eu sou ilustradora, mas sabia que pra chegar até aqui eu estudei e ainda estudo muito?
Embora pra alguns, uma pessoa que desenha bem é dotada de algum tipo de dom ou qualquer coisa assim, por trás de um bom desenho sempre vai existir alguma técnica, por mais simples que ela possa parecer.
Outro dia, conversando com vocês no Instagram, eu acabei desenterrando vários trabalhos antigos e entrei em uma discussão sobre o amadurecimento ou não do nosso trabalho e a conclusão que eu cheguei foi: já abordei temas mais maduros e pesados de formas mais imaturas e hoje eu escolhi trabalhar com temas que me trazem mais felicidade de um jeito mais maduro e leve. E tudo bem…¯_(ツ) _/¯
A verdade é que durante nossa vida nós mudamos muito por diversos motivos. Seria loucura viver uma vida inteira sendo a mesma pessoa, sem se reinventar, sem mudar os seus pensamentos, gostos, ideias…E não seria diferente no nosso processo artístico. Eu já preferi trabalhar com lápis de cor, guache, caneta e hoje eu sou uma grande defensora da aquarela, ecoline e pintura digital. E mais uma vez, tudo bem! ¯_(ツ) _/¯
Na minha adolescência (viiixi, uns 18 anos atrás) eu adorava fazer cursos extra curriculares, minha semana era toda completa por atividades além da escola, basicamente minha rotina era aula de guitarra, bateria, teoria musical, japonês e…DESENHO!!! Claro que as aulas de desenho eram uma das melhores partes da semana, fiz aula de mangá, desenho técnico, realismo, desenho arquitetônico, lápis de cor…enfim, tudo que eu pude fazer na época.
E como já era de se esperar escolhi fazer faculdade de Artes Visuais.
No meio disso tudo eu fico pensando em como meus pais foram incríveis em me apoiar sem querer me tolher de ser quem eu sou, sem ter aqueles anseios de ter uma filha médica ou advogada, ou “algo que dê dinheiro”. Meus pais são 100% de exatas e eu todinha de humanas, das artes…Imagina só, minha mãe formada em matemática, meu pai (e meu irmão) em administração e eu…bom, vocês já sabem como eu sou.
Eu fiz Belas Artes, uma das melhores faculdade do país, era meu sonho de princesa estudar ali, só que meus primeiros meses foram MUITO difíceis, de chegar em casa chorando, sabe? Pra quem acha que faculdade de Artes é fácil, já adianto falando de que não é.
Quando eu entrei na faculdade, em 2006, e eu era muiiito voltada a ilustração, minha cabeça pensava desenho o tempo todo, era isso que eu sabia fazer. E pra minha surpresa isso não valia de nada no meu curso, nada nadinha. Basicamente eu tive que me reconstruir inteirinha e tentar reordenar esse caos que se tornou minha cabeça. Sabe quantas vezes eu desenhei em 4 anos de curso? NENHUMA.
No primeiro semestre eu tinha uma matéria chamada DESENHO, na minha inocência achei que seria onde me destacaria e quebrei a cara. Primeira aula foi sobre sobreposições, criar saindo do convencional. Olhei pro lado e meus colegas estavam cortando o cabelo e jogando no papel, pegando areia, tacando fogo, usando betume…enfim, que pânico. Eu só queria usar o papel e o lápis. Demorou um tempo pra essa minha auto reconstrução acontecer, aprender a pensar fora da caixa e sair da minha zona de conforto.
Basicamente meus desenhos se tornaram fotografias, minhas pinturas eram tridimensionais, minhas esculturas eram voltadas a luthieria e meus trabalhos audiovisuais eram vídeos mesmo (ufa).
O ser humano é MUITO adaptável e pra mim depois de um tempo esses desafios se tornaram a motivação que eu precisava para criar e foi um período muito gostoso. Eu amava fazer Artes Visuais e amava a Belas Artes, não conseguia me imaginar estudando outra coisa.
Pra terminar o post de hoje, queria dizer que terminei a faculdade sem conseguir desenhar uma bola.
Qualquer hora eu conto pra vocês sobre um outro curso que mudou a minha vida, como eu voltei pra ilustração e com o que eu trabalhei durante todo esse tempo.